sexta-feira, 13 de abril de 2007

nestes dias...

Quando cá cheguei ainda vinha com o espírito angolano: juntava pessoas em casa para almoços, jantares, lanches, combinava passeios, praias. Com o tempo as pessoas ensinaram-me a pôr-me no meu lugar, que é Fora da ‘Família’, a Máfia portuguesa. Não pertences ao gang, à ‘Família’, estás foxtrot. Cá as pessoas têm que ser apresentadas ao grupo (‘Família’), “esta é a”, caso contrário não fazes parte da ‘Família’. Não podes chegar simplesmente e dizer “eu sou a”, pega mal, não és aceite, és mesmo posta de parte.
Doeu muito de início, senti-me perdida, triste, ignorada. Mas com o tempo fui-me habituando, como sempre. Habituando a ser sozinha numa sessão de cinema, numa peça de teatro, num espectáculo. Agora não dói muito, agora dilacera-me.
Acho piada (ironicamente falando) quando dizem:
- como vais conhecer pessoas se não sais.
Que piada, estou contorcida de tanto rir. Eu saio, sim. Sozinha. Vou ao teatro e ao cinema, vou a espectáculos, passeios. Sozinha. Cansei de convidar. Custa mais quando estamos a contar com alguém e no último minuto uma mensagem ou um telefonema “desculpa, fica para a próxima”
Outra é: “Temos que combinar”, um clichet que também faz parte da ‘Família’, como quem diz “esquece ….”.
Sabem o que mais me entristece? É situações como a que me senti há pouco tempo. Daquelas pessoas que gostava de poder partilhar filmes, saídas simpáticas, mas que nos últimos anos (seis, sete) tem-se desviado á ultima da hora “desculpa amiga, eu não vou poder ir, não estou bem”. Eu respeito isso. Ninguém é obrigado a estar connosco, a gostar de estar connosco, cada um de nós tem a liberdade de fazer seja o que for. Mas, quando nos dizem “tu continuas a ser a minha grande amiga”, nós acreditamos e continuamos a dar o tempo que a pessoa precisa. Quando de repente um encontro casual no centro comercial e um comentário do tipo “estava em casa quando uma amiga ligou pois precisa falar”, e eu acabara de a apresentar ao meu colega, como “esta é a uma das minhas melhores amigas”. É um choque, uma forte pancada. Que fazer? Seguir em frente, que remédio.
Eu só queria companhia para ir ao cinema, uma companhia que eu gostasse, que eu sentisse carinho, uma Amiga.
Afinal de contas eu sou amiga mas…como diria alguém: procurámos os nossos próprios problemas e no meu caminho só aparecem pessoas com problemas, a procura de apoio porque sabem que comigo terão Todo o apoio, a compreensão, a ternura, o carinho. Sentir-se-ão seguras enquanto precisarem. Pois, tens razão é verdade, provavelmente só capte para mim esse tipo de pessoas. Não sei o que fazer para ser diferente.
Sinto-me cansada há uns anos para cá, sinto-me perdida em mim, não sei como sair dessa agonia interior. Por fora, só o brilho dos meus olhos e o meu sorriso prevalecem.
Hey não pensem que estou a ser ingrata aos meus grandes e adoráveis amigos, porque sim TENHO grandes amigos sim. Ou pensavam que não??? Tenho grandes Amigos sim, a maior parte em Angola (Luanda e Lobito) daqueles que são do peito, tipo irmãos. E uma Grande Amiga cá, ela sabe, é loira mas sabe disso. E tenho grande amigos das 9 às 18, de 2ª a 6ª e são todos eles uma Dádiva para mim. Principalmente os meus pais, manas e sobrinhos. Acreditem.
Só que nenhum consegue dar-me um abraço, deixar que eu chore até não aguentar mais e que me diga “vai tudo correr bem” (aquela grande mentira mas que é tão bem-vinda naquelas alturas, como se nos desse coragem, como se nos confortasse sabermos que tudo vai correr bem, não sabemos como mas vai).
Todos temos os nossos problemas e eu, mais do que ninguém, sei respeitar a dor e o momento dos outros, quem me conhece sabe disso. Posso estar de rastos mas os outros estão em primeiro. Sorrio e faço palhaçadas para o bem estar geral. Detesto o papel de coitadinha. Mas quero tanto um abraço, alguém que me embale e diga “vai tudo corre bem”, ou simplesmente esteja ali em silêncio mas que eu sinta que eu oiça outro coração que não o meu. Que eu sinta outro calor entre o abraço, que não sejam só os meus braços a minha volta.
Faço alguma lógica? Sei lá, nem me importa.
Estou triste nesta semana Santa, sozinha. Por escolha? Sim, porque sinto-me vazia e a obrigação de ir ter com pessoas que querem ver-me a sorrir, a brincar, a dizer baboseiras; que não suportam que exista outra pessoa com problemas e que esteja calada; que só essas pessoas têm o direito de sentirem necessidade da minha atenção, da minha força, das minhas bobagens, para se sentirem melhor; não tenho forças para tal, Porque preciso, sim eu preciso de me sentir pequenina no colo a ser embalada, não aguento mais embalar Todos, os meus braços estão cansados, o meu coração está pequenino, cansado.
O telefone não toca, não faz mal.

Há quem possa vir a dizer "assim afastas as pessoas"...eu só posso dizer: só podemos afastar (ou não) quando existe uma aproximação....

Isto tudo porquê? Este fim de semana sonhei com uma bebé, vezes seguidas, sonhos diferentes...mas ela estava sempre lá e eu... a embalar, a cantar, alí para ela. (a PS disse-me uma vez "será que a bebé que sonhas várias vezes, não és tu?")

3 comentários:

Anónimo disse...

"É impossível perdoar outro porque é somente os teus pecados o que tu vês nele. Esta é a grande decepção do mundo e tu és o maior “enganador” de ti mesmo. Parece sempre que é o outro que é mau, e no seu pecado tu és injuriado. Como poderia ser possível a liberdade se isto fosse assim? Tu serias um escravo para cada um porque o que ele faz determina o teu destino, os teus sentimentos, o teu desespero ou esperança a tua miséria ou alegria."

Me!

Quinta-feira, Abril 12, 2007

Anónimo disse...

Começar

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

Chico Xavier

Me!

Quinta-feira, Abril 12, 2007

Sáurius disse...

Me! seja lá quem for:) provavelmente até sei!
pois, por vezes sinto que sou escrava da voltade dos outros para ter a paz. harmonia. Por isos não me vejo no "...somente os teus pecados o que tu vês nele"

Sexta-feira, Abril 13, 2007